Os Velhos Não Jogam Damas na Praça

A advertência está clara e delineada na obra Invisíveis: pessoas em situação de rua no Brasil – significantes e significados, qual seja:(…)na rua pessoas se reconstroem e organizam seu mundo invisível onde lutam pela vida e contra a morte. Sobrevivem da caridade, das sobras e do lixo; roubam, mendigam e fazem atividades artísticas, a busca de recursos financeiros ou alimentos; lutam contra a morte presente na comida envenenada, no fogo que as incinera enquanto dormem, na violência gratuita que marca seus corpos, no poder de polícia do Estado que lhes retira a humanidade e na intolerância dos que os enxergam como “lixo urbano”. O estar em situação de rua revela um mundo de diversidade, realidades, causas e motivos de ser e estar na rua.(…) Pessoas em situação de rua são cotidianamente percebidas em diversas cidades brasileiras, desenvolvendo suas táticas de sobrevivência nos espaços públicos urbanos. Na rua perdem a condição de humanos e passam a ser tratadas como parte da cena urbana, como se a rua fosse seu lugar de direito. Perdem suas histórias e passam a ser identificadas não pelos nomes, mas pelas táticas de sobrevivência que desenvolvem ou pelos locais onde estão. Passam a ser o Zé da esquina, a mulher que fica sentada em frente à casa lotérica, o malabarista do semáforo, o “noia” do largo. Tornam-se invisíveis enquanto seres humanos possuidores de direitos, deveres e saberes. (in,Invisíveis: pessoas em situação de rua no Brasil – significantes e significados Organização: Fábio Santos de Andrade, Gisely Storch do Nascimento Santos, Silvana Viana Andrade, Pedro e João Editores). Os poderosos de ocasião, mais uma vez, não identificam os lugares para os seres humanos de segunda ou terceira categorias. As entidades, sociedade civil, religiosa ou laica, seus presidentes, assistem em silêncio, aguardam as eventuais migalhas, transferem os corpos e detrás das cortinas do medo e da omissão espreitam e esperam. A herança colonial se perpetua na burocracia portuguesa e na corrupção italiana, nada se edifica, somente a ausência. O lixo, ainda, está nas ruas junto com os seres humanos e debaixo das pontes e viadutos, o tempo insiste em passar. Envelhecemos.

São José do Rio Preto, 29 de maio de 2025

CARLOS SIMÃO NÍMER

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